por Beatriz Terra e Barbara Pacifico
O Setting terapêutico se constitui como um espaço seguro e sólido, onde o processo tem início. Um local silencioso, onde o psicólogo e o indivíduo estabelecem regras e apresentam suas questões. O psicólogo deve apresentar de início suas regras, para ter maior controle das situações que poderão surgir, exemplo disso é se colocar com neutralidade e imparcialidade.
De acordo com Moreira e Esteves (2012), uma forma clara de entender o Setting é como “regras de um jogo”, essas serão expostas pelo psicólogo no início do contrato, os jogadores entendem as regras antes de começar a jogar. Muitas vezes nem todas as regras são apresentadas, preservando algumas particularidades, o jogo pode ir se moldando a partir do que vai sendo revelado durante o “jogo”.
Freud traz o Setting como um campo seguro, tendo sua inserção pelo contrato, dando início ao processo terapêutico, durante sua experiência clínica teve como objetivo delimitar o espaço entre terapeuta e paciente, sem aprisionar a papéis já determinados, sendo livre as mudanças de “regras do jogo”.
O Setting fora do consultório
Com o passar dos anos, a psicologia foi sendo solicitada em muitos campos de atuação, com isso alguns conceitos vão se adaptando a essas demandas, a psicologia social, hospitalar, comunitária, ambiental, todas tem espaço terapêutico e de vínculos.
O setting pode ser visto como um espaço físico em um consultório, um divã, a formalidade idealizada para algumas abordagens. Entretanto, na elasticidade do setting estão muitas áreas da psicologia como forma de apresentar controle no exercício da profissão.
O Design do Setting Terapêutico
Como nós já tínhamos tratado no post de Desenho Universal, de acordo com a visão da arquitetura, cada ambiente deve ser adequado a cada tipo de usuário. Contudo, isso também equivale a cada atividade a ser realizada no local. Para um espaço como o setting terapêutico, é necessário que ele transmita uma mensagem, essa sendo de tranquilidade, confiança, aconchego, liberdade e entre outros. Isso também equivale à proximidade que se deseja criar entre o psicólogo e o indivíduo.
Por exemplo, no setting terapêutico, podemos contemplar 2 grupos divididos por faixa etária: infantil e adulto. O grupo mais característico, o infantil, é claro que será necessária a presença de brinquedos, jogos e figuras lúdicas. É importante que nesse espaço existam estímulos direcionados ao tipo de demanda, como também ter praticidade, pois também é necessário acolher a família dessa criança com o intuito de entender todo o meio em que a criança vive.
Sabendo disso, é possível dizer que a elaboração de um setting terapêutico pode ser realizada através de uma parceria entre arquiteto ou designer de interiores e o psicólogo. Assim será possível compor o espaço direcionado para os clientes que este costuma receber de acordo com a abordagem de trabalho utilizada pelo profissional.
No design de interiores também é estudado que cada ambiente é estruturado de acordo com o seu uso. Ambientes residenciais, comerciais, hospitalares e de hotéis possuem, cada um, uma forma de ser composto e também existem regras em cima disso. Então, além das regras estabelecidas em normas da ABNT, existem algumas sugestões de composições utilizadas e estudadas há muito tempo.
Dentre essas composições, existem diversos materiais e métodos que transmitem mensagens, assim como as cores, como pudemos ver no post sobre A Influência de Ambientes para Autistas aqui do blog. Os materiais a serem escolhidos para compor os ambientes terapêuticos precisam estar relacionados às mensagens relacionadas à terapia. As cores e os materiais amadeirados sempre se caracterizam por ACONCHEGO.
Os espaços devem ser bem iluminados para elevar a ENERGIA do espaço, e todos os elementos de composição do design devem formar uma só unidade, trazendo HARMONIA.
Sempre que for possível, é muito importante que o ambiente estabeleça uma conexão direta com a natureza. Essa conexão pode ser dada através de grandes janelas, varandas ou até mesmo o uso de plantas como decoração no ambiente.
O ambiente terapêutico pode ainda distribuir aromas de acordo com a intenção e também disponibilizar cores. Uma das características mais importantes, é que esse ambiente seja mutável e que o terapeuta possa alterar seu layout e a composição de decoração quando quiser e da forma que quiser.
O mais importante é frisar que a composição dos espaços clínicos devem sempre priorizar a facilidade de higienização, principalmente no atual momento em que vivemos no mundo.
Esperamos que tenham gostado da “Sessão Arquitetura Acessível” dessa semana! E se você não viu os outros posts desse quadro, acesse o nosso blog e cheque essas e muitas outras publicações agora mesmo!!
REFERÊNCIAS
Espaços Terapêuticos | BADERMANN ARQUITETOS
O que é Setting Terapeutico ou Setting Analítico? – Psicanálise Clínica (psicanaliseclinica.com)
MOREIRA, Letícia Machado; ESTEVES, Cristiane Silva. Revisitando a teoria do setting terapêutico. Portal dos psicólogos, p. 1-8, 2012.
SANTOS, Juliana Marques Batista dos et al. A PSICOLOGIA FORA DO SETTING TERAPÊUTICO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA. 2019.